Por que vale a pena vacinar depois dos 80 anos?
A resposta à pergunta feita no título pode ser: “para prevenir adoecimento, hospitalizações e morte por doenças infecciosas”, o que já são excelentes motivos, concorda? Mas é também para evitar a incapacitação, que pode estar relacionada a sequelas físicas ou psicológicas produzidas pela doença ou pela hospitalização, com impacto na qualidade de vida.
Algumas das principais doenças infecciosas de risco para o idoso podem ser evitadas com a vacinação.
PARTICULARIDADES DE PESSOAS COM MAIS DE 80 ANOS
Devido ao maior grau de imunossenescência, pessoas com oitenta anos ou mais:
- são muito mais suscetíveis a doenças;
- apresentam maior risco de dependência após o adoecimento, o que compromete a qualidade de vida e gera enorme impacto social e econômico na dinâmica familiar.
ENTENDA:
01.
O combate às doenças infecciosas, principalmente com a vacinação, reduz a mortalidade, sobretudo na população mais jovem.
02.
Essas pessoas passam a viver mais e a conviver com fatores de risco para doenças crônico-degenerativas (DCD), como a hipertensão arterial (pressão alta) e a hipercolesterolemia (elevação da taxa de colesterol no sangue), por exemplo.
03.
Com o aumento do número de idosos, tornam-se mais frequentes as complicações das DCD ─ como o infarto agudo do miocárdio, por exemplo. Elas podem ser desencadeadas ou agravadas por doenças infecciosas, que voltam a ter grande impacto na morbimortalidade (taxa de determinada doença e da mortalidade que ela provoca), agora, entre os idosos.
Grande parte dos idosos apresenta alguma doença de base. Quando contraem uma infecção, eles tendem ater seu quadro de saúde agravado e ficam mais sujeitos à hospitalização prolongada. Portanto, evitar doenças infecciosas é prevenir hospitalizações, perda da qualidade de vida e mortes.
MORTALIDADE
O quadro abaixo compara as causas de mortalidade de idosos (homens e mulheres) mais jovens e mais velhos.
Entre os maiores de 80 anos, a pneumonia, doença que pode ser prevenida pela vacinação, foi a quarta causa de morte em 2010.
Em homens, as causas pulmonares, associadas ou não ao tabagismo (cigarro), têm maior importância relativa.
HOSPITALIZAÇÃO E DEPENDÊNCIA
As doenças infecciosas aumentam o risco de internação hospitalar e, por consequência, de perda da capacidade funcional e da independência, devido ao repouso prolongado no leito; a quedas; desnutrição; incontinência ou incapacidade de urinar; e a outras alterações muitas vezes irreversíveis.
A taxa de complicações iatrogênicas (decorrentes do tratamento), inerentes à internação, é de 3 a 5 vezes maior em idosos, quando comparada com a da população adulta jovem hospitalizada.
SAIBA MAIS:
- Estudo norte-americano mostrou que 62% dos maiores de 80 anos, que passaram por internação, apresentaram incapacidade nova ou adicional associada à hospitalização em uma ou mais atividades da vida diária.
- A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) destaca que hospital não é ambiente seguro para o idoso, devido ao alto risco de infecção e de perda da capacidade funcional. Ela também chama atenção para as consequências após a alta, como os transtornos associados a quadros depressivos.
PNEUMONIA, A INIMIGA DO IDOSO
Entre os mais velhos, as pneumonias representam a quarta causa de internação. Elas podem ser provocadas por vírus como o da influenza (gripe) ou bactérias (pneumococo).
Em 1904, o médico Sir William Osler, considerado um dos pais da medicina moderna, chamou a pneumonia de the oldman’s friend (a “amiga” do idoso). Isso porque, segundo ele, idosos com doenças degenerativas, sem perspectiva de tratamento naquela época (uma fratura do colo do fêmur para a qual não havia cirurgia, ou doença de Parkinson, antes da descoberta do tratamento, por exemplo) acabavam por se “beneficiar” da pneumonia, que lhes encurtava a vida e o sofrimento.
HERPES ZÓSTER (HZ) E A PERDA DA QUALIDADE DE VIDA
A dor é uma das principais características do herpes zóster, doença que é mais comum entre os idosos. Mesmo após a cicatrização das lesões, a dor crônica chamada neuralgia pós-herpética (NPH) pode persistir por meses e até anos.
Dois em cada dez idosos acima de 80 anos com HZ apresentam NPH.
As consequências do HZ vão muito além da pessoa doente. Perguntados sobre o impacto da doença no relacionamento, a maioria dos familiares e parceiros respondeu que os sintomas interferiam consideravelmente na rotina diária: a necessidade de faltas ao trabalho para oferecer cuidados especiais, os custos com o tratamento e a interferência na participação em eventos sociais demonstram a amplitude do problema, que acaba por afetar a vida pessoal e até financeira de toda a da família.
COMO AS VACINAS PODEM AJUDAR?
Os programas de prevenção e promoção da saúde, incluindo a vacinação, são as principais ferramentas de medicina preventiva para reduzir o número de internações de idosos, garante a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
Impacto da vacinação – Estar com o calendário de vacinação em dia traz benefícios para os idosos e todos a sua volta. Ela não só diminui o risco de adoecimento, de complicações e a mortalidade, como possibilita mais qualidade de vida.
Herpes zóster, gripe, pneumonia, hepatites A e B, tétano e coqueluche são algumas das doenças que podem ser prevenidas com a vacinação.
Saiba mais!
FONTES
CAMARANO, A. A. Idosos brasileiros: que dependência é essa? In: CAMARANO, A. A. Muito além dos 60: os novos idosos brasileiros. Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 1999. p. 281-304.
CARVALHO, J. A. M.; GARCIA, R. A. O envelhecimento da população brasileira: um enfoque demográfico. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 19, n. 3, p.725-733, 2003.
CHAIMOWICZ, F. A saúde dos idosos brasileiros as vésperas do século XXI: problemas, projeções e alternativas. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 184-200, 1997.
CHODOS, A. H. et al. Hospitalization-Associated Disability in Adults Admitted to a Safety-Net Hospital. J Gen Intern Med., v. 30, n. 12, p. 1765-1772, 2015. ISSN: 0884-8734 [reviewed 18 May 2018].